Marisa Beppu

Nasci em 1972, terceira de quatro filhos em uma família de ascendência japonesa, que sempre viveu da agricultura familiar, assentada no interior do Rio de Janeiro pelo INCRA. Essa colônia estabelecida no interior do RJ visava repovoar as terras abandonadas no passado por pragas e doenças e estabelecer uma região de abastecimento agrícola no RJ.

A influência dessa colônia foi tamanha que a escola na qual estudei leva o nome até hoje de “Escola Estadual Sol Nascente”. Foi em Papucaia, distrito de Cachoeiras de Macacu, que vivi toda a minha infância e parte de minha adolescência, até 16 anos, quando passei no vestibular da Unicamp.

Para nascer e estudar, tive que adotar Itaboraí como minha segunda cidade, pois Papucaia não dispunha de infraestrutura médica ou educacional desenvolvida à época, tanto que foi somente nos anos 80 que a luz elétrica chegou em minha casa. Eu fazia o esforço diário de pedalar 20 min em estrada de chão e tomar ônibus local durante 1 hora para assistir aulas das 7:00 às 12:20 no Colégio Cenecista Alberto Torres.

Devido ao histórico de meus pais, filhos de imigrantes que só puderam estudar até o primário, a educação era algo inquestionável em minha casa. O único item de dispêndio isento de indagações era todo aquele relacionado à compra de livros e pagamento de cursos. Noto hoje, que mesmo com todo esse apoio, é muito difícil convencer jovens que vivem numa realidade muito distante da Universidade, a investirem em sua formação. Tanto que fui a única de minha família a cursar o nível superior.

Ao final do segundo grau (hoje, equivalente ao ensino médio), final de 1988, aos 16 anos de idade, prestei três vestibulares: física para UFF, e engenharia química na Unicamp e UFRJ. Passei em todos eles, e por razões da fama da Unicamp e incentivo de minha mãe, optei por mudar para Campinas (a cerca 600km de casa), para estudar no estado de São Paulo. Os sacrifícios não foram poucos, mas a vontade e obstinação eram fortes.

Ao chegar na Unicamp, me deparei com novas realidades. Tive a oportunidade de ser parte da primeira turma que morou na moradia estudantil da Unicamp, dividindo casa com duas estudantes da medicina e uma da química. Graduei-me em 1993, aos 21 anos de idade.

Trabalhei na Petrobrás, concluí meus estudos de mestrado e doutorado que incluía um estágio sanduíche nos EUA. Trabalhava na DuPont do Brasil, quando os caminhos da vida me trouxeram novamente a cruzar com a Unicamp, desta vez, por meio de um concurso para docente, em 2001.

Casei-me e tenho três filhos. Eles me completam como ser humano.

Hoje, 36 anos depois, cada vez que saio para trabalhar na Unicamp, ainda me sinto aquela menina que descobriu o mundo no quintal de sua casa, com os pés no chão, feliz por ter descoberto algo novo em suas brincadeiras.

Minha própria vida é um exemplo do poder transformador da educação, missão esta, que acho a mais importante de nossa Universidade: transformar e melhorar a vida das pessoas.